sábado, 8 de maio de 2010

o arqueólogo amador (4)

sem título - para Morandi - 2008 - acrílico sobre papel, 100 x 140 cm.
untitled - for Morandi - 2008 - acrylic paint on paper, 100 x 140 cm.

sem título - alegoria - 2008 - acrílico sobre papel, 140 x 100 cm.
untitled - allegory - 2008 - acrylic paint on paper, 140 x 100 cm.


sem título - um palácio no deserto - 2008 - acrílico sobre papel, 140 x 200 cm.
untitled - a palace at the desert - 2008 - acrylic paint on paper, 10 x 200 cm.



sem título - o quadro - 2008 - acrílico sobre papel, 100 x 140 cm .
untitled - the picture - 2008 - acrylic paint on paper, 100 x 140 cm.



sem título - a sombra - para L. C. - 2007 - acrílico sobre papel, 100 x 140 cm.
untitled - the shadow - for L. C. - 2007 - acrylic paint on paper, 100 x 140 cm.



sem título - leçons de ténèbres - 2007 - acrílico sobre papel, 100 x 140 cm.

untitled - leçons de ténèbres - 2007 - acrylic paint on paper, 100 x 140 cm.





o arqeólogo amador (3)

sem título - retrato de grupo - 2008 - óleo sobre tela, 160 x 180 cm.
untitled - group portrait - 2008 - oil on canvas, 160 x 180 cm.


sem título - o coleccionador - 2008 - óleo sobre tela, 160 x 180 cm.
untitled - the collector - 2008 - oil on canvas, 160 x 180 cm.

Identidades - Maria Leonor Nunes in Jornal de Letras

sem título - natureza morta com troféus de caça - 2007 - óleo sobre tela, 100 x 150 cm.
untitled - still life with dead game - 2007 - oil on canvas, 100 x 150 cm.


Identidades –João Francisco

Arqueologia amadora
Não será de excluir por completo qualquer remota influência de Indiana Jones, mas o certo é que a arqueologia sempre o interessou. O assunto tornou-se a dada altura tão sério que desejou ser arqueólogo, sonhando sobretudo com escavações no Egipto. A pintura foi mais forte e as escavações acabaram por ficar-se pelo quintal. Os desenhos e pinturas de João Francisco são o resultado dessa “escavação amadora”. “Tal como o arqueólogo encontra e recupera os artefactos antigos para os fazer falar, eu procuro ou encontro os objectos que uso nas composições e provoco diálogos entre eles”, diz.

Teatro de objectos
Ténis, carrinhos, barcos, livros, cartas de jogar, garrafas, cascas de banana, o snoopy, Gauguin: uma profusão de objectos em conjuntos extraordinários como um vislumbre de memória ou de uma colecção de imagens. “As composições são encenadas, os objectos coleccionados e dispostos, depois representados”, como explica o pintor que usa o atelier como um “cenário” desse “pequeno “teatro” em miniatura onde os objectos são “actores”” que representam segundo o seu “desejo”. E acrescenta: “A narrativa é muitas vezes desconhecida para mim. Os actores transitam de peça para peça”.

Natureza morta
Quer se insinue a paisagem ou o retrato, todas as pinturas são naturezas mortas. A cor ou, mais próximas do desenho, a preto e branco. A João Francisco tem interessado, aliás, abordar a natureza morta “com as suas possibilidades e os seus limites, com a sua habilidade de se transformar noutra coisa, com o seu poder evocativo dentro de uma tão assumida banalidade”. É esse o esteio do projecto que está a desenvolver e que cruza também a ideia de museu, de colecção e arquivo, em suma de “acumular” coisas e eventualmente dar-lhes um sentido. “Interessa-me criar algo que pode simultaneamente ser visto como melancólico e irónico, como sério ou absurdo. A distância é curta, e cabe ao espectador defini-la”.


Maria Leonor Nunes (Jornal de Letras, 4 de Maio de 2008, pág. 4).

a comment by Alexandre Pomar

sem título - o museu II - 2008 - grafite sobre papel, 100 x 140 cm.
untitled - the museum II - 2008 - graphite on paper, 100 x 140 cm.



sem título - o tempo - 2008 - grafite sobre papel, 100 x 140 cm.
untitled - the time - 2008 - graphite on paper, 100 x 140 cm.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

"o arqueólogo amador - e outras naturezas mortas" - José Luís Porfírio in Expresso

sem título - tempestade em Trouville - para E. Boudin - 2008 - óleo sobre tela, 160 x 180 cm.
untitled - storm at Trouville - for E. Boudin - 2008 - oil on canvas, 160 x 180 cm.



Há um evidente júbilo nesta primeira exposição de João Francisco (n. 1984); as obras (desenhos, pinturas, acrílicos a preto e branco e a cor) todas muito recentes, isto é, deste ano, vão crescendo e enchendo o mais largo espaço da 111, urgentes na sua manifestação, tal como as coisas e fragmentos que invadem, em organizada desordem, cada trabalho seu. João Francisco simula obedecer ao conhecido ritual do “sem título”, mas só para brincar com ele, e no seu caso vale a pena, já que os seus títulos, a começar pela obra que dá nome à exposição, têm sentido, e melhor, constroem sentido; assim as referências ao museu e à colecção, ou a lição de trevas (em francês o que não é nada habitual) introduzem-nos a um mundo particular de fetiches, acumulações, construções, citações estilísticas ou formais duma perturbada e perturbante Pintura Metafísica ou das “coisas” de Guston em acelerada multiplicação, como acertadamente refere a folhinha de sala que substitui o catálogo. Citações também, ainda mais directas e literais, são os quadros dentro do quadro ou desenhos dentro do desenho, o auto-retrato de Gauguin, quase um “leitmotiv”, e ainda Mário Eloy, Klee, Picasso, que surgem como emblemas entre os objectos, as estatuetas, os ossos, os brinquedos, os trapos, os livros que ora se espalham cobrindo um sobrado ou uma mesa, ora se organizam numa construção: “um palácio no deserto” ou “Barricada”. Aparentemente o pintor limita-se a olhar para o que lhe está mais próximo, o seu lugar de trabalho invadido pelas mais variadas coisas que organiza a seu bel-prazer, sempre as mesmas e sempre diferentes nas suas relações mútuas e na sua escala; trata-se, como é óbvio, do contrário de um levantamento objectivo, mas da demonstração do poder evocativo e mutante das imagens destes objectos que, sem sair do mesmo sítio, são capazes de evocar diversos mundos, proliferantes, mutáveis, inquietos.


José Luís Porfírio (actual – Expresso, 7 de Junho de 2008, pág. 43)