
sem título - leçons de ténèbres - 2007 - acrílico sobre papel, 100 x 140 cm.
untitled - leçons de ténèbres - 2007 - acrylic paint on paper, 100 x 140 cm.
sem título - leçons de ténèbres - 2007 - acrílico sobre papel, 100 x 140 cm.
untitled - leçons de ténèbres - 2007 - acrylic paint on paper, 100 x 140 cm.
Identidades –João Francisco
Arqueologia amadora
Não será de excluir por completo qualquer remota influência de Indiana Jones, mas o certo é que a arqueologia sempre o interessou. O assunto tornou-se a dada altura tão sério que desejou ser arqueólogo, sonhando sobretudo com escavações no Egipto. A pintura foi mais forte e as escavações acabaram por ficar-se pelo quintal. Os desenhos e pinturas de João Francisco são o resultado dessa “escavação amadora”. “Tal como o arqueólogo encontra e recupera os artefactos antigos para os fazer falar, eu procuro ou encontro os objectos que uso nas composições e provoco diálogos entre eles”, diz.
Teatro de objectos
Ténis, carrinhos, barcos, livros, cartas de jogar, garrafas, cascas de banana, o snoopy, Gauguin: uma profusão de objectos em conjuntos extraordinários como um vislumbre de memória ou de uma colecção de imagens. “As composições são encenadas, os objectos coleccionados e dispostos, depois representados”, como explica o pintor que usa o atelier como um “cenário” desse “pequeno “teatro” em miniatura onde os objectos são “actores”” que representam segundo o seu “desejo”. E acrescenta: “A narrativa é muitas vezes desconhecida para mim. Os actores transitam de peça para peça”.
Natureza morta
Quer se insinue a paisagem ou o retrato, todas as pinturas são naturezas mortas. A cor ou, mais próximas do desenho, a preto e branco. A João Francisco tem interessado, aliás, abordar a natureza morta “com as suas possibilidades e os seus limites, com a sua habilidade de se transformar noutra coisa, com o seu poder evocativo dentro de uma tão assumida banalidade”. É esse o esteio do projecto que está a desenvolver e que cruza também a ideia de museu, de colecção e arquivo, em suma de “acumular” coisas e eventualmente dar-lhes um sentido. “Interessa-me criar algo que pode simultaneamente ser visto como melancólico e irónico, como sério ou absurdo. A distância é curta, e cabe ao espectador defini-la”.
Maria Leonor Nunes (Jornal de Letras, 4 de Maio de 2008, pág. 4).