
untitled - storm at Trouville - for E. Boudin - 2008 - oil on canvas, 160 x 180 cm.
Há um evidente júbilo nesta primeira exposição de João Francisco (n. 1984); as obras (desenhos, pinturas, acrílicos a preto e branco e a cor) todas muito recentes, isto é, deste ano, vão crescendo e enchendo o mais largo espaço da 111, urgentes na sua manifestação, tal como as coisas e fragmentos que invadem, em organizada desordem, cada trabalho seu. João Francisco simula obedecer ao conhecido ritual do “sem título”, mas só para brincar com ele, e no seu caso vale a pena, já que os seus títulos, a começar pela obra que dá nome à exposição, têm sentido, e melhor, constroem sentido; assim as referências ao museu e à colecção, ou a lição de trevas (em francês o que não é nada habitual) introduzem-nos a um mundo particular de fetiches, acumulações, construções, citações estilísticas ou formais duma perturbada e perturbante Pintura Metafísica ou das “coisas” de Guston em acelerada multiplicação, como acertadamente refere a folhinha de sala que substitui o catálogo. Citações também, ainda mais directas e literais, são os quadros dentro do quadro ou desenhos dentro do desenho, o auto-retrato de Gauguin, quase um “leitmotiv”, e ainda Mário Eloy, Klee, Picasso, que surgem como emblemas entre os objectos, as estatuetas, os ossos, os brinquedos, os trapos, os livros que ora se espalham cobrindo um sobrado ou uma mesa, ora se organizam numa construção: “um palácio no deserto” ou “Barricada”. Aparentemente o pintor limita-se a olhar para o que lhe está mais próximo, o seu lugar de trabalho invadido pelas mais variadas coisas que organiza a seu bel-prazer, sempre as mesmas e sempre diferentes nas suas relações mútuas e na sua escala; trata-se, como é óbvio, do contrário de um levantamento objectivo, mas da demonstração do poder evocativo e mutante das imagens destes objectos que, sem sair do mesmo sítio, são capazes de evocar diversos mundos, proliferantes, mutáveis, inquietos.
José Luís Porfírio (actual – Expresso, 7 de Junho de 2008, pág. 43)
José Luís Porfírio (actual – Expresso, 7 de Junho de 2008, pág. 43)
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