São muitas e contraditórias ass razões do coleccionismo, mas de forma voluntária ou involuntária a actividade tende a dfinir o coleccionador, o seu campo de interesses, o seu estatuto socioeconómico e mesmo o seu temperamento. Ao fazer do coleccionismo o tema da sua pintura, João Francisco produz uma engenhosa inversão. Neste caso, a pintura, antes de ser ela própria um objecto de tentação coleccionista, é primeiramente a sua sede e inevitavelmente o seu espelho. Obsessivamente habitada por objectos de diferente valor económico (livros, brinquedos, bibelôs, pedras e quinquilharias várias) que o artista faz figurar ora em rede ora exibindo uma enigmática numeração, esta pintura cria um universo iconográfico desenhado com um realismo moderado que oferece a cada pintura uma sugestão onírica também ideal para reforçar a ideia muito magrittiana de que é de imagens de objectos (e não de objectos eles mesmos), de miragens, portanto, que cada tela se enche vertiginosamente.
Celso Martins (actual - Expresso, 16 de Janeiro de 2010
sem título - a pirâmide - 2009 - óleo sobre tela, 100 x 140 cm.
untitled- the pyramid - 2009 - oil on canvas, 100 x 140 cm.
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